[Resenha] Os sete maridos de Evelyn Hugo - Taylor Jenkins Reid
Sinopse: Lendária
estrela de Hollywood, Evelyn Hugo sempre esteve sob os holofotes -- seja
estrelando uma produção vencedora do Oscar, protagonizando algum escândalo ou
aparecendo com um novo marido... pela sétima vez. Agora, prestes a completar
oitenta anos e reclusa em seu apartamento no Upper East Side, a famigerada
atriz decide contar a própria história -- ou sua "verdadeira história"
--, mas com uma condição: que Monique Grant, jornalista iniciante e até então
desconhecida, seja a entrevistadora. Ao embarcar nessa misteriosa empreitada, a
jovem repórter começa a se dar conta de que nada é por acaso -- e que suas
trajetórias podem estar profunda e irreversivelmente conectadas.
"Evelyn
Hugo faz Elizabeth Taylor parecer sem graça. Você vai rir com ela, chorar,
sofrer, e então voltar para a primeira página e fazer tudo de novo." --
Heather Cocks e Jessica Morgan, autoras de The Royal We
Opinião: "Os sete maridos de Evelyn Hugo"
Monique
Grant era uma jornalista da revista Vivant. Nela, Monique vinha participando de
trabalhos pouco importantes. Tudo isso mudou quando Evelyn Hugo, uma grande
celebridade, envia à revista um pedido para que a jornalista escrevesse a sua
biografia.
Monique vê
o convite com bons olhos. Jornalista há mais de uma década, ela tinha grandes
ambições, e escrever um livro era uma delas. Ela passa a ter reuniões com
Evelyn e assim começa a história deste livro.
Estamos
diante de mais um livro em que as propriedades narrativas de mais de um gênero
textual são exploradas. Além do romance em prosa, “Os sete maridos de Evelyn
Hugo” também se vale de matérias jornalísticas para contar a sua história. Na
primeira matéria que vi no livro, achei que Taylor fosse revelar uma certa
tensão entre a vida de Evelyn Hugo como ela é e a forma como ela seria
retratada de forma sensacionalista pela mídia.
Me
surpreendi positivamente. As matérias de jornal narravam fatos da vida da atriz
de uma forma bem objetiva. Em diversos momentos, elas deixavam dúvidas que serviam
como ganchos para o retorno da narrativa no romance em prosa. Em outros,
serviam como um mecanismo de recapitulação dos principais eventos narrados para
que o leitor pudesse partir para a leitura de uma nova fase da vida de Evelyn
Hugo.
A cada
marido da atriz uma parte desse livro se dedicou. E cada uma delas foi narrada
em primeira pessoa em forma de romance biográfico, e não de biografia, como eu
imaginava. Voltarei a falar sobre o enredo.
Os momentos
em que passamos a acompanhar a vida de Evelyn Hugo são precedidos por reuniões
nas quais ela conversa com Monique Grant. A jornalista dialoga com o leitor e
revela que a escrita da biografia de Evelyn seria feita à luz da vida amorosa
da atriz. Ela também levanta uma dúvida: qual dos sete maridos de Evelyn Hugo
foi o amor de sua vida? Guarde-a, pois ela trará descobertas surpreendentes.
Descendente
de cubanos, Evelyn perdeu a sua mãe aos onze anos. Ela desejava se tornar em
uma estrela de cinema, pois acreditava que isso pudesse retirá-la da situação
econômica em que se encontrava e permiti-la se livrar do marido. Após a sua
morte, Evelyn herda esse sonho.
Ela sofreu
bastante com o falecimento de sua mãe. Se há algo em que Taylor Jenkins Reid
não falhou em “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo” foi em mostrar as repercussões
psicológicas que cada evento impactante trazia aos seus personagens. Isso ocorreu
por meio de um fornecimento satisfatório de detalhes, que proveu o enredo de
uma profundidade psicológica que me agradou bastante.
À medida
que Evelyn crescia, seu corpo tomava forma e os planos de vida que a sua mãe
tinha para a família começam a ser partilhados pela filha. Eis quando ela
decide trocar a sua virgindade por uma carona para Hollywood. Foi nessa ocasião
que conheceu o seu primeiro marido, Ernie Diaz.
A ele foi
dedicada uma parte inteira do livro. Nele, vemos a tematização da fama ao longo
de todo o enredo. Nessa parte específica, vimos que a conquista da fama pode ter
como preço a renúncia à dignidade humana. Não tarda até Evelyn se divorciar de seu primeiro marido e se casar com outro.
Don Adler
foi o seu segundo marido. Diferente de Ernie, Evelyn tinha reais sentimentos em
relação ao seu novo marido. Enquanto essa união civil durou, a autora explorou
mais duas temáticas que atraíram a minha atenção: a de que uma mulher que
sofreu violência doméstica durante a infância por parte de seu pai é propensa a
julgar natural a que vir a sofrer de um marido e a de que a conquista da fama pela mulher geralmente se dá em meio ao surgimento de rivalidades femininas.
Falar sobre
cada uma das partes dessa história poderá incomodar a muitos a partir de
então. Mas, conforme a narrativa avançava, maior se tornava o meu grau de interesse na
história de Evelyn Hugo. Acredito que eu não tenha sido a único a registrar
essa impressão.
Mas, a
princípio, eu tive mais interesse na vida de Monique Grant do que na da própria
Evelyn. E, conforme a história avançava, maior era a minha afeição pela
história da atriz. Apesar de que cada parte do livro tenha sido dedicada a cada
um de seus maridos, não foi ao seu relacionamento com cada um deles que o
enredo teve como pontos centrais.
Não sou
habituado a ler biografias de celebridades, mas não é difícil perceber que a
história de Evelyn Hugo tenha sido inspirada em fatos reais ocorridos com uma
ou mais pessoas. E acho que isso pode explicar por que nem um dos romances
narrados no livro tenha como base os clichês comumente usados por autores do
gênero.
Pode
explicar, também, o porquê dessa história soar tão real. Evelyn Hugo poderia
ser muito bem uma mulher que existe fora da ficção. A autora ganhou pontos
comigo em virtude da verossimilhança deste livro.
Eu disse
anteriormente que essa narrativa também se apoia em matérias de jornais e que
eu esperava que nelas fosse exposto um contraste entre a vida de celebridades
sendo ilustrada por meio de uma imprensa sensacionalista e a sua vida tal como
ela é. É isso o que eu costumo observar em livros do gênero. Além de ter outras
propriedades narrativas exploradas pela autora, as matérias de “Os Sete Maridos
de Evelyn Hugo” revelaram o quão pouco a imprensa realmente sabe sobre a vida
das celebridades.
Tenho
grande estima por livros que buscam se diferenciar dos demais e é por isso que
o desta resenha ganha pontos comigo. Ainda em relação à fama, a história de
Evelyn Hugo nos mostra como a rivalidade feminina é explorada contra as
mulheres na imprensa e como, com o envelhecer, ela as descarta e substitui por outras.
Ao
mencionar Elton John, Taylor Jenkins Reid explorou o fato de muitos artistas
não revelarem a sua orientação sexual por saberem que isso poderia custar a
ruína de suas carreiras décadas atrás. O livro trouxe a temática LGBT. Mais uma
vez, porém, de forma inovadora.
Inovadora para o que já li no gênero, cumpre lembrar. E inovadora para muitos que vivem nesta sociedade, que vivem em meio à invisibilidade dos bissexuais. Em “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo”, vemos como em muitas vezes a bissexualidade tem a sua existência negada e os bissexuais se veem na obrigação de escolherem uma preferência. E isso, inclusive, dentro do próprio meio LGBT.
Outro fato
que já citei ao longo desta resenha foi o de que a afeição do leitor a Evelyn
Hugo tende a crescer conforme a história avança. Nos primeiros capítulos do
livro é mencionado o trágico destino de Evelyn, o de perder todas as pessoas
que ama. Inclusive Connor Cameron, sua filha.
Mesmo
sabendo o que iria ocorrer no final desde os primeiros capítulos dessa obra, a
comoção causada pelo seu desfecho muito se deve ao fato de que durante toda a
história a autora tenha buscado cultivar no leitor o sentimento de afeição por
Evelyn Hugo. É mais um livro em que saber o desfecho não compromete o sentido
de sua leitura. Um livro que despertou a mesma sensação em mim foi “Canção de Ninar” de Leïla Slimani, que já foi resenhado aqui no blog.
Quanto à
Monique Grant, eu já disse que a princípio eu achei a sua vida mais
interessante de ser lida que a da própria Evelyn Hugo e que esse sentimento foi
se desfazendo com o avançar da história. Porém, é em relação ao desenvolvimento
de Monique que “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo” deixou a desejar.
A autora transmitiu-me
a impressão de que ela tinha uma intenção inicial de articular melhor a vida da
jornalista à biografia de Evelyn Hugo mas que acabou desistindo de fazê-lo
conforme avançava na escrita do livro. A história de Monique até poderia dar
origem a outro livro, mas alguns pontos em relação a ela foram apresentados no
início dessa história e não foram bem desenvolvidos, o que comprometeu a
unidade do livro até certo ponto. E esse não é um livro de uma série.
Apesar
dessa pequena imperfeição, é difícil expressar em palavras o quanto o livro me
agradou. O ano está bem distante do fim, mas esse livro poderia entrar na minha
lista de melhores leituras sem grandes dificuldades. Ele foi o meu segundo
contato com a autora, e eu julguei a sua leitura muito melhor que a primeira. É
o tipo de livro com grande potencial de agradar sem precisar recorrer a clichês
comumente explorados por autores do gênero.
Autor da resenha: Felipe Germano Monteiro Leite
Os sete maridos de Evelyn Hugo (2019) | Ficha técnica:
Título original: The seven husbands of Evelyn Hugo
Autor(a): Taylor Jenkins Reid
Páginas: 360
Nota: 9/10
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