[Resenha] Evangelho de sangue - Clive Barker
Sinopse: Clive
Barker retorna à sua poderosa voz narrativa em grande estilo. Evangelho de
Sangue é o sombrio, sangrento e brutal épico do terror, narrado pelo mestre
inquestionável do gênero, e ansiosamente aguardado pelos fãs.
Evangelho
de Sangue oferece uma junção clara dentro do universo de Barker. Os leitores
mais atentos já perceberam que as histórias dele se passam em um mesmo
universo, mas, agora, o mundo de Hellraiser é explicitamente unido ao do
detetive Harry D’Amour – que aparece em outras histórias do autor, como o conto
“The Last Illusion”, presente no sexto volume dos Livros de Sangue, e no
romance Everville.
D’Amour,
que se dedica a investigar casos sobrenaturais, mágicos e malignos, vem
encarando seus demônios pessoais há anos. Quando ele se depara com uma Caixa
das Lamentações, seus demônios internos são substituídos por demônios de
verdade, conforme ele se vê enredado em um terrível jogo de gato e rato,
absolutamente complexo, sangrento e perturbador. Evangelho de Sangue reconduz
os leitores ao tempo marcado por dois de seus mais icônicos personagens, que
conduzem a história em uma batalha entre o bem e o mal tão antiga quanto o
tempo, onde o autor conecta a mitologia de Hellraiser ao Inferno bíblico.
Opinião: "Evangelho de Sangue"
Escritor.
Roteirista. Poeta. Artista plástico. Os talentos de Clive Barker não são grandes apenas em quantidade. Após a publicação de “Hellraiser – Renascido do
Inferno: Os cenobitas estão chegando”, o autor nos entregou um clássico do
terror. Nele, encontramos um enredo com um ritmo eletrizante e que desperta
a nossa curiosidade a respeito da história de seus sangrentos vilões. Em “Evangelho
de Sangue”, temos a oportunidade de conhece-la, bem como o universo que eles habitam.
O livro
começa com um prólogo impregnado de suspense e cenas sangrentas. Nele, um grupo
de cinco magos faz um ritual para trazer Joseph Ragowski, o seu mestre, de
volta à vida. Ele conta aos magos como foi brutalmente assassinado, e após
saber que a criatura responsável pela sua morte está chegando, deseja a ela
retornar.
Alegando
apenas seguir um conselho do próprio Ragowski, o grupo ignora o seu desejo. E
não demora até o cenobita Pinhead chegar. Os magos desejavam participar do
convívio dos cenobitas, e Pinhead exigia prostração em troca.
E a
prostração que ele queria era quase tão indigna quanto possível: Pinhead queria
os magos como cãezinhos. Tinha outras exigências também, e não era qualquer um a estar disposto a atende-las. Lendo o prólogo, é possível me entender. Mas foi a partir desse tipo
de divergência que Pinhead foi matando cada mago com uma crueza que, acredito, despertará a sua curiosidade para conferir no próprio livro.
Theodore Felixson, que aceitou curvar-se a Pinhead, sobreviveu. Antes de falecer, Elizabeth, que pertencia ao grupo de magos, deu à luz uma filha, sob ordens de Pinhead, com o qual ficou. E então... O que estaria por trás da decisão de Felixson? Qual seria o interesse de Pinhead em fazer Elizabeth dar à luz um bebê?
Agora
passamos a acompanhar a história de Harry D’Amour. O detetive possui anos de
experiência trabalhando com forças demoníacas. Norma Paine, sua amiga, é cega e
portadora do dom de enxergar os mortos, o qual lhe permitiu conhecer o caso de
Carston Goode e solicitar a ajuda do detetive.
O sr. Goode
queria que Harry fosse a sua casa. Aqui chegando, D’Amour tem surpresas nada
agradáveis. Em um momento posterior, ele precisa ir ao inferno.
Em
comparação com “Hellraiser – Renascido do inferno: Os cenobitas estão chegando”,
a narrativa de “Evangelho de Sangue” é bem mais densa. Na realidade, ela pode
ser considerada densa para o que é considerado normal.
Porém, eu
já estou acostumado a ler livros densos e a densidade da narrativa não me
incomodou. Conforme eu disse no primeiro parágrafo da resenha, “Evangelho de sangue”
nos apresenta a história dos vilões de Hellraiser e o mundo que eles habitam. E
essa apresentação ocorreu por meio de uma linguagem densa.
Quem não
leu Hellraiser não terá a menor dificuldade de entender o enredo da obra aqui
resenhada. Porém, poderá julgar a apresentação do universo mítico da histórica
tediosa e arrastada. Isso não me ocorreu porque a leitura da primeira obra
deixou em mim uma grande curiosidade pela origem da mitologia nela contida.
“Evangelho
de sangue” possui uma complexidade muito maior que a de Hellraiser. Até os
momentos de suspense possuem uma elaboração mais profunda que os da obra
anterior. Em resumo: quem ler “Evangelho de sangue” sem haver lido Hellraiser
poderá julgar a obra tediosa e sem dinamismo.
Invertendo
a situação, quem ler Hellraiser após “Evangelho de sangue” poderá julgar o
primeiro livro bem mamão com açúcar.
Adorei a
forma como essa história foi contada. O suspense não acompanha todos os seus
momentos. O que conduz o leitor à conclusão da leitura é a necessidade de saber
se tudo acabará bem. Mas Clive Barker sabe despertar a curiosidade do leitor a
respeito da história dos personagens e do universo mítico. Ler o livro de uma
só vez, portanto, não é o desejo que ele desperta.
O autor nos
apresentou o mundo dos cenobitas, além de outras criaturas que o habitam.
Porém, ele não necessariamente os explicou. Não totalmente, pelo menos. Algo
similar ocorreu com os mocinhos e os vilões dessa história.
Embora
tenha fornecido muitas explicações a seu respeito, Clive Barker deixou muitos pontos a
esclarecer. Uma coisa eu devo mencionar: todas as explicações relevantes
para o enredo do livro foram fornecidas pelo autor. Mas ele deixou o desejo por
mais explicações.
E elas
poderiam ser fornecidas em outros livros sem dificuldades. Há
outros livros contando com a presença de Harry D’Amour. Farei uma confissão: a complexidade
de “Evangelho de Sangue” foi grande a ponto de me deixar com o receio de que
outras obras ambientadas em seu universo soem-me básicas demais.
Em
Hellraiser, o cenobita Pinhead se tornou um grande fertilizante de pesadelos para a minha mente. Em “Evangelho de Sangue”, ao imergirmos no universo do cenobitas
conhecemos seres com um poder muito maior, e o seu potencial aterrador, de
certa forma, foi reduzido. O de causar suspense e de participar de cenas
sangrentas, não. Mas aí repousa mais um receio de minha parte em ler outros
livros contendo a participação dos cenobitas: será que eles conseguirão me
atemorizar novamente?
O receio em relação a outros livros ambientados no mesmo universo de “Evangelho de sangue” não teria sido causado se a obra não houvesse sido tão boa.
A sua estruturação
é bem similar ao de uma jornada do herói. Porém, ela foi adaptada a um contexto
bem diverso e não foi marcada pelo interesse final de exaltar ações heroicas.
Afirmo com segurança, portanto, que a estrutura desse livro é bem original.
Após Harry
chegar ao inferno, a história divide-se em dois focos narrativos.
Enquanto Norma sofria nas mãos dos cenobitas, o detetive de tudo fazia para
poder resgatá-la. Essa divisão de focos permitiu a Barker dar suspense à trama
e a manter o interesse do leitor no desfecho da obra.
Em
comparação com Hellraiser, a divisão de focos de “Evangelho de Sangue” é menos
engenhosa. Mas no livro aqui resenhado cheguei à conclusão que uma maior agilidade
não é tudo para que um suspense possa ser considerado melhor do que outro.
A edição da Darkside ficou muito bonita. E veio com um marca-páginas igualmente belo. Meus parabéns à editora!
“Evangelho de Sangue” foi mais um livro de terror que marcou a minha vida. Quem não é habituado a livros com uma certa densidade poderá julga-lo cansativo. Quem não leu Hellraiser poderá julga-lo tedioso, pelo menos nos momentos em que Barker descreve o universo ao qual os cenobitas pertencem. Mas, se você já estiver habituado a leituras densas e houver lido o livro que eu mencionei, o desta resenha poderá se tornar em uma leitura tão grandiosa quanto foi para mim.
Autor da resenha: Felipe Germano Monteiro Leite
Evangelho de Sangue (2015) | Ficha técnica:
Título original: The Scarlet Gospels
Autor: Clive Barker
Páginas: 317
Nota: 10/10
Interessante crítica. Conheci o universo dos cenobitas com a belíssima minissérie em quadrinhos que a editora abril jovem publicou por aqui no incio da década da 1990. Ali, em quatro edições( a original americana possuía mais edições), vários artistas contavam historias baseadas nos cenobitas e suas caixas de configurações. Mas o que me instigou é que ninguém ali quis inventar a roda, o mistério de serem eles demónios ou alienígenas era mantido. Eram personagens que podiam ser usados em qualquer contexto, época ou planeta...a única prerrogativa, era que a maldade, o ódio ou o desejo de alguma criatura viva deveria estar presente. Parabens pela resenha do livro. Ja passou da hora dos cenobitas voltarem aos cinemas!
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