[Resenha] Prelúdio à Fundação - Isaac Asimov




Sinopse: Prelúdio à Fundação, de Isaac Asimov, apresenta o início do desenvolvimento da psico-história, uma ciência capaz de prever o futuro da humanidade. Premiada com um Locus, em 1988, a obra funciona como um prequel da série Fundação. Nela é apresentada o início do Império, assim como, de sua capital Trantor. 
No romance, o Império Galáctico é uma extraordinária conquista da humanidade. Seu domínio se estende por 25 milhões de mundos. Trantor, sua capital, é uma gigantesca metrópole povoada por 40 bilhões de habitantes. Um deles, no entanto, está destinado a transcender sua própria existência, embora não tenha consciência disso. Ele é Hari Seldon, o criador da psico-história. Baseada em equações matemáticas, sua ciência será, um dia, a pedra fundamental da Fundação.Este é o sexto volume da celebrada saga, porém funciona com um prequel a série e narra os eventos que antecedem o primeiro livro.Prelúdio à Fundação é o sexto volume da celebrada saga da Fundação, porém narra os eventos que antecedem o primeiro livro.



Opinião: Prelúdio à Fundação


Agora falaremos sobre o sexto volume da série, que foi vencedora do prêmio Hugo de melhor série de fantasia e ficção científica de todos os tempos. O que, para mim, não se deveu a mero acaso. 


Em "Prelúdio à Fundação", conhecemos o contexto da concepção da Psico-História, sobre a qual discutimos no post anterior e a qual foi o mote para o desenvolvimento dos cinco volumes anteriores da obra. 


Na trama, o leitor é levado ao ano 12020 da Era Galáctica. Cleon I era o imperador e tinha Eto Demerzel como chefe de seu gabinete. O Império era comandado por forças militares, e vinha passando por momentos de instabilidade a séculos, com imperadores sendo mortos por seus respectivos sucessores. Havia da parte de Cleon I uma grande preocupação quanto ao seu destino enquanto imperador. 


Trantor representava a capital do Império Galáctico, irradiando o seu poder pela galáxia e abrigando 40 bilhões de habitantes. Naquele momento, Hari Seldon, matemático proveniente do planeta de Helicon, vai a Trantor divulgar a sua Psico-História por meio de uma palestra em uma conferência. Na ocasião, a Psico-História não era mais do que um lampejo, mas ela atrai a atenção de seus espectadores sobremaneira


Tanto que os assessores do imperador o comunicam sobre o jovem matemático. Cleon I ordena a Eto Demerzel que o convoque para uma audiência. Nesta, Seldon apresenta a Psico-História, até então tida pelo próprio como uma ciência impraticável e pouco útil ao imperador. A audiência o decepciona e Seldon se prepara para regressar a Helicon no dia seguinte. 


No caminho de volta para o hotel, Hari Seldon conhece o jornalista Chetter Hummim. Este o alerta para o perigo de ser feito prisioneiro do imperador ao chegar ao hotel ou ao regressar a Helicon, com isso sugerindo a ameaça que a Psico-História poderia representar aos interesses do Império. Em meio a uma fuga impregnada de suspense e com grandiosas cenas de ação, Hummim consegue demover Seldon de retornar a Helicon. 


O jornalista o explica sobre a diversidade de ambientes em Trantor, muitos dos quais impenetráveis à influência do Império. Nesse contexto, Seldon vai à biblioteca de Trantor com o objetivo de desenvolver a Psico-História e torná-la praticável. Aqui, conhece a historiadora Dors Venabili, a qual o auxilia em sua empreitada e com ele empreende uma grande jornada por diferentes setores de Trantor.


Na obra aqui resenhada, conhecemos um Hari Seldon completamente diverso daquele que encontramos nos volumes anteriores da série. Neles, encontramos um Seldon estoico e confiante, enquanto que aqui encontramos uma humanização do personagem, que antes de viver a tensão que tornaria a Psico-História praticável, era à época sensível e intempestivo. 


Há, ainda, uma outra ruptura em relação aos volumes anteriores: enquanto nestes Seldon faleceu e retorna ao enredo somente em meio às Crises Seldon e por meio de mensagens holográficas oriundas de sua consciência que serviriam à resolução das referidas crises, vemos o cientista protagonizar o enredo pela primeira vez no universo criado por Isaac Asimov. O mesmo pode ser dito sobre Trantor. Os momentos em que o planeta serviu de ambientação para o enredo da trilogia principal foram breves e somente em "Limites da Fundação" ele teve uma participação mais estruturante no enredo, mas somente para o desenvolvimento de um dos núcleos narrativos que foi protagonizado por um personagem que teria participação bastante decisiva no conjunto da obra.


Em "Prelúdio à Fundação", temos a oportunidade de conhecer diversos setores de Trantor. Em meio aos 25 milhões de planetas que compõem o Império Galáctico, nem um deles foi tão bem apresentado ao leitor durante a série quanto Trantor o foi neste volume. Ao fazê-lo, Asimov deu mostras da grande estruturação da narrativa contida na obra. 


Quase trinta anos distanciam a conclusão da trilogia principal de sua retomada em "Limites da Fundação". Tempo suficiente para que Isaac Asimov atingisse um novo patamar de maturidade narrativa e de escrita. Vemos isso muito bem em "Prelúdio à Fundação". 


A obra é subdividida em partes. Cada uma delas se passa em um setor de Trantor. Asimov vai apresentando elementos em cada uma das subdivisões do enredo e os inserindo na engenhosa trama. Há um grande dinamismo nessa apresentação, a qual se deu por meio da divisão de cada uma das 19 partes da obra em pequenos capítulos. 


Também posso apontar melhorias na linguagem. Como em toda obra de ficção científica, Asimov nos apresenta vários conceitos por ele criados tomando por base conhecimentos científicos. Na trilogia principal, a apresentação desses conceitos em muitos momentos constituiu um estorvo à manutenção da leitura por parte de um leitor não interessado nesses conceitos. 


Em "Prelúdio à Fundação", a apresentação desses conceitos não foi para mim enfadonha. Isso se deveu a uma menor complexidade da linguagem científica empregada. 


Há outro aspecto louvável da estruturação narrativa da obra. Dividi-la em partes e, estas em pequenos capítulos, Asimov soube quando construir cenários e contextos em alguns capítulos e quando criar suspense com brilhantes ganchos e grandiosas cenas de ação em outros sem que em algum momento da leitura o enredo me soasse arrastado. 


Tanto nesta obra quanto em seus volumes anteriores na série, a construção do enredo teve da parte do autor uma importância que se sobressaiu à construção dos personagens. Isso poderá incomodar a muitos, inclusive o leitor desta resenha que decidir ler a obra. Mas, a mim, não.


Asimov não teve o afã de desenvolver o passado do personagem em seus mínimos detalhes, o que a mim não representa nem um problema. Mas ele desenvolveu muito bem as suas motivações ao longo da trama e deixou pontas soltas sobre alguns deles que operam como ganchos para o último volume da série, "Origens da Fundação". Julgo incrível a forma como o autor detalha os pensamentos dos personagens antes de tomar decisões. Estas em muitos casos não seriam óbvias ao olhar do leitor e não fariam sentido algum caso o autor não as detalhasse tão bem.


Muitos leitores da obra reportaram um desagrado quanto à imaturidade de Seldon na obra. Embora eu não enalteça esse aspecto do personagem para mim, é bastante notável o seu amadurecimento ao final da trama. E ainda temos outra ponta solta passível de ser unida no próximo volume sobre como ele adquiriu uma sabedoria tão defendida por diversos personagens da trilogia principal.


Embora seja na cronologia do Império Galáctico o livro mais antigo da série "Fundação", assim mesmo recomendo que a sua leitura se dê na ordem de publicação pelo autor. O interesse pelo enredo da obra não é tão intenso quanto o das obras anteriores, e ele será ainda menor caso o leitor não os tenha lido primeiro. 


Encontramos na obra discussões sobre os robôs e a origem da humanidade na obra. Esses pontos foram abordados nos volumes anteriores, os quais também não trouxeram explicações a meu ver completas. Essas explicações podem ser encontradas em obras do autor fora da série Fundação.


Leitores que já conhecem essas obras julgam o desenvolvimento de "Prelúdio à Fundação" bastante previsível. Isso reforça a indicação de muitos leitores do autor de começar a lê-lo pela série "Fundação". 


A despeito de os personagens não terem uma construção tão detalhada, o autor sobre como despertar a empatia do leitor quanto à missão a eles designada. Há grandes mistérios a respeito desses personagens a serem desvendados no próximo volume. Próximo ao desfecho da obra, temos um grande revelação sobre a natureza de um deles que desempenhou um papel bastante decisivo no desenrolar da trama. 


No desfecho, somos defrontados por um romance entre dois personagens de conflito que depois os superam, crescem e se amam. O surgimento desse romance foi para mim insólito, mas extremamente inovador e que contribuiu para a criação de um desejo pela continuação da série.


"Fundação" é uma das primeiras séries de ficção científica que leio. Tamanha é a minha devoção pela série que o meu interesse pelo gênero atinge um novo grau a cada volume lido. Essa não é a melhor obra do autor, e na verdade me agradou menos que os volumes anteriores. Mas ela ainda se encontra em um patamar de excelência, na medida em que Asimov nela apresenta um novo nível de maturidade narrativa e elementos novos do universo por ele concebido. Ao longo da crítica, apontei alguns pontos que poderão incomodar, os quais explicam os principais grupos a quem indico a obra: os leitores de ficção científica e os leitores do autor que desejam conhecer melhor o seu universo.




Prelúdio à Fundação (1988) | Ficha técnica:

Autor: Isaac Asimov

Páginas: 456

Nota: 10/10

 

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