[Resenha] O Conde de Monte Cristo - Alexandre Dumas
Sinopse: Traições, denúncias anônimas, tesouros fabulosos,
envenenamentos, vinganças e muito suspense. A trama de O Conde de Monte Cristo
traz uma emoção diferente a cada página e talvez isso explique porque a obra do
escritor francês Alexandre Dumas se transformou em um clássico da literatura
mundial, mexendo com a imaginação dos leitores há mais de 150 anos.
No romance, o marinheiro Edmond Dantés é preso injustamente, vítima de
um complô. Anos depois, consegue escapar da prisão, enriquece e planeja uma
vingança mirabolante. A galeria de personagens criada por Dumas faz um retrato
fiel da França do século XIX, um mundo em transformação, em que passou a ser
possível a mudança de posições sociais. As aventuras de Dantés ainda ganharam
diversas versões cinematográficas que colaboraram para o sucesso da trama.
Opinião: “O Conde de Monte Cristo”
Nesta
resenha, falarei sobre “O Conde de Monte Cristo”, uma das obras mais conhecidas
do francês Alexandre Dumas. Nascido em uma região próxima a Paris, a sua
carreira teve início em 1829. Sendo considerada um dos três maiores
best-sellers de todos os tempos, a obra que será aqui resenhada foi publicada
em meio ao seu estilo de vida extremamente consumista que sempre lhe resultava
em dívidas.
No breve prefácio
da edição que eu li, o autor nos conta um pouco sobre o processo criativo da
obra. Em 1841, enquanto morava em Florença, Dumas teve uma conversa com Jerônimo
Bonaparte, de quem era amigo. Na ocasião, o príncipe o levou às ilhas de Elba.
Após as percorrerem, eles navegam e Dumas enfim conhece a ilha de Monte Cristo.
Juntos,
contornam a ilha. Após retornar a Florença, Dumas assina um contrato para
escrever um compilado denominado “Impressões de viagem em Paris”. No dia
seguinte, um dos senhores envolvidos no contrato lhe pede para que escreva um
romance ambientado onde Dumas bem entendesse, contanto que ele despertasse
interesse e não contivesse grandes revelações sobre o compilado.
O autor
começa a escrever e os desdobramentos da empreitada acabaram resultando na obra
sobre a qual irei falar. Posteriormente, haverá uma foto da edição para que se
possa conferir a questão em maiores detalhes.
Confesso
que há uma grande dificuldade de minha parte em falar sobre o enredo dessa
obra. Até mesmo porque nele há história demais. Na primeira da seis de suas partes,
acompanhamos uma grande injustiça contra Edmond Dantès.
Marinheiro,
Dantès tem o seu cotidiano bem apresentado pelo autor. Não o fez por meio de
descrições que geralmente resultam no tédio e no cansaço mental, mas por meio
de uma narração de cenas que nos cativa e permite conhecer aquilo que Dumas
pretende transmitir. Embora fosse de origem humilde, Edmond possuía uma
carreira bem promissora.
Apaixonado
por Mercedes, tinha os seus sentimentos por ela correspondidos. Falarei mais
posteriormente. O avanço da leitura da obra traz muitas reflexões sobre a
relação entre o envelhecimento e aquilo que se faz de proveitoso ao longo da
vida.
Leclére, o
capitão do Pharaon, navio no qual Dantès trabalhava, faleceu. Isso teria como
efeito a escalada de Edmond ao posto de capitão aos 21 anos de idade. Sobre
isso ele conversou com o seu pai.
A reação
dele foi ótima. Afinal, não é todo dia que um pai recebe como notícia o fato de
seu filho adquirir mais riqueza e prestígio social. Contudo, na ocasião houve
uma discussão sobre o pagamento de uma dívida com Caderousse que imprimiu um
certo desconforto na narrativa. Caderousse e Danglars eram companheiros de
Dantès na marinha, e a notícia de que ele ascenderia ao posto de capitão não
deixaria nada menos que inveja.
No capítulo
seguinte, Dumas apresenta o casal Dantès e Mercedes. Era um relacionamento até
certo ponto sigiloso. Danglars e Caderousse sabiam dos sentimentos de Edmond
pela moça de 17 anos, mas não sobre ele obter reciprocidade quanto a eles. O
par é mais um daqueles clichezinhos inspirados em Romeu e Julieta.
Para começar,
havia uma diferença de idade entre eles que causava estranhamento em muitos.
Depois, vinham as diferenças de cunho econômico e social. Mercedes possuía um patrimônio
consideravelmente maior que o de Dantès e, também, um pretendente mais próximo de si:
Fernand.
Soldado,
Fernand não tinha de Mercedes nem um tipo de sentimento além da fraternidade.
Apaixonada por Edmond, ela nada queria de Fernand além de amizade. E nos
primeiros capítulos é narrada uma cena na qual Mercedes confessa isso a Fernand
e Dantès aparece.
Assim
Edmond conquistava a antipatia e a inimizade de pessoas, o que futuramente
resultaria em sua desgraça. Após o incidente do parágrafo anterior, Danglars e
Fernand se encontram e o último segreda que só não mataria Dantès porque
Mercedes afirma que se ele morresse, cometeria suicídio.
Conforme eu
disse alguns parágrafos atrás, o casal Edmond e Mercedes em muito lembra Romeu e
Julieta. E, como disse o próprio Fernand, somente a morte os separaria. O
conluio que ele formaria com Danglars, Caderousse e outro personagem sobre o
qual eu falarei posteriormente daria um jeito na situação.
Pois bem.
Eles prepararam uma grande armação para Dantès. Na época em que essa história
se passa, a França encontrava-se em franca perseguição aos bonapartistas. E o
romance desenvolve bem essa questão. Dentro desse contexto, um novo personagem
entra em cena: Villefort.
Havia uma
grave acusação contra o pai do referido personagem, a de ser bonapartista. Ele
precisava impedir a sua prisão e, para tanto, seria necessário encontrar outra
pessoa a quem atribuir a acusação. A sorte não estava ao lado de Dantès.
E eis
quando em pleno almoço de noivado ele recebe um mandado de prisão. Logo em
seguida ele vai à procura de Villefort e toma ciência que a decisão foi fruto
de uma grande perfídia por parte de seus inimigos. Aconselho que confiram
melhor a questão na história, pois apesar de sua grande extensão, esse foi um
de seus momentos mais memoráveis.
O resultado
de tudo foi a prisão de Dantès no castelo de If. Ele aceitou a questão
passivamente? Definitivamente não, e isso vemos muito bem durante a sua estadia
no castelo. Mas enfim... Como ele conseguiria escapar do castelo? Ele sequer
conseguiria dele escapar?
Acompanhem
no livro.
O enredo
deste livro se passa na França das primeiras décadas do século XIX. Ou seja, há
não tanto tempo após a Revolução Francesa. Esse acontecimento foi um marco para a
História. Enquanto a economia do mundo no século XIX teve uma grande influência
da revolução industrial britânica, a sua política e ideologia o foram pela
Revolução Francesa.
O uso das
bandeiras tricolores por parte das nações emergentes foi apenas um exemplo. A
sua influência chegou a atingir até as antigas civilizações anteriormente
resistentes às ideias europeias. Ela se estendeu por todo o mundo e é
considerada o primeiro grande movimento de ideias da cristandade a ter um
efeito real no mundo islâmico. O historiador Eric Hobsbawn fala mais a respeito
em “A Era das Revoluções”.
Diversos
fatores contribuíram para a sua eclosão. A dissolução do feudalismo, o
enfraquecimento da aristocracia e a ascensão de uma grande revolução comercial
com o alvorecer do Mercantilismo foram alguns. Também ocorreu a consolidação do
Absolutismo Monárquico diante da influência dos filósofos contratualistas:
Thomas Hobbes, Jean Jacques Rousseau e John Locke.
Enquanto o
ideário do Iluminismo se propagava na Europa, a França exibia uma burocracia
ineficiente e desorganizada, o que causava um grande descontentamento entre os
seus habitantes, especialmente no que respeita aos impostos e à corrupção da
máquina pública. Para completar, o país se envolveu em guerras e contraiu
dívidas, as quais exigiram um aumento na cobrança de impostos.
Em
paralelo, a Europa atravessa um grande período de transformações políticas,
econômicas e sociais. Enquanto isso, a vida dos trabalhadores e camponeses
franceses era de extrema miséria e a burguesia, apesar de seu poder econômico,
não possuía uma grande representatividade política. Posteriormente, essa
situação culminou com eventos que resultaram na Revolução Francesa.
Havia
dissidências entre os setores que protagonizaram a revolução. E isso deflagrou
uma grande disputa de poder entre eles. Contar sobre cada um de seus
desdobramentos não interessa ao escopo dessa resenha, mas ele teve como
desfecho o Golpe do 18 de Brumário, que pôs Napoleão Bonaparte no poder.
Ele foi um
marco para a História. Considerado por muitos o maior político francês, as
ações governamentais de Napoleão Bonaparte tiveram uma grande repercussão no
mundo. Considerando a Inglaterra como rival, a França bonapartista lançou mão
de várias tentativas de isolar economicamente e diplomaticamente a outra
potência.
Valendo-se
da violência para atingir esse fim, e tendo em consideração a dependência da
economia portuguesa em relação às relações comerciais com a Inglaterra, D. João
VI e a família real de Portugal decidem fugir para o Brasil em meio a uma
invasão a ser empreendida pelos franceses. Em 1808, ocorrem dois importantes
eventos: a independência do Brasil e a destituição da dinastia de Bragança do
reino de Portugal após uma violação do Tratado de Fontainebleau por parte de
Napoleão Bonaparte, o qual passou a reinar sobre as terras portuguesas.
Aquela
famosa figura não teve um final feliz. Derrotado na batalha de Waterloo em
1815, Napoleão Bonaparte foi deportado para a ilha de Elba, local que participou
da inspiração da concepção da obra aqui resenhada. O resultado desse
acontecimento trouxe certas repercussões ao conteúdo obra.
Como se
sabe, a Revolução Francesa e a Era Napoleônica puseram fim a quase todos os
privilégios da nobreza, a qual representava o segundo estado do Antigo Regime.
E, com a derrota de Napoleão Bonaparte, o seu desejo de restabelecê-los veio à
luz.
No campo da
educação, temos um dos maiores legados da Revolução Francesa a serem levados
adiante após a queda de Napoleão. Contudo, em seu governo houve uma certa
centralização da educação em suas mãos, algo bastante criticado ao longo do
século XIX. Tal como na revolução, na Restauração também havia divergências
entre os radicais revolucionários e os restauradores do Antigo Regime.
Contudo,
inspirados por Royard-Collard, o partido dos doutrinários defendeu que os
interesses da pátria estivessem acima daquela disputa e depositaram na educação
um grande papel na construção de uma nova França. Nela, haveria a necessidade
de doutrinar as pessoas para interferir positivamente no futuro da nação.
Uma
curiosidade é que o partido do parágrafo anterior defendia a monarquia e não a
democracia. Porém, era uma monarquia constitucional na qual o rei ainda desempenharia
uma função importante, mas completamente distinta da que existia no Antigo Regime.
Um de seus legados está na separação entre educação e religião e na superação
da Revolução Francesa sem descartar as suas conquistas.
Isso não
implica que tudo na França ocorreu de modo pacífico. Após a derrota de Napoleão,
a Restauração impôs uma grande perseguição a qualquer suspeito de apoiá-lo. E
foi isso o que vimos na primeira parte de “O Conde de Monte Cristo”.
Outro
impacto da revolução que reverberou no conteúdo da obra está nas mudanças
sociais econômicas por ela suscitada. Na segunda metade do século XVIII, a
sociedade europeia era tipicamente rural. Naquele período, ocorreu a formação
das cidades.
Os
ambientes rural e urbano tornaram-se complementares. Pouco antes da Revolução
Francesa, a posse de terras era a responsável pela manutenção do status de
dominação por parte da nobreza. Naquele período, houve importantes mudanças na
estrutura econômica do país e os nobres houveram de procurar outras fontes de
renda para si.
Nesse
contexto, os senhores de terra passaram a alugar as suas propriedades e os
camponeses, a desfrutar de sua própria produção de terra. Mais mudanças
tornavam a se materializar no cenário político: o desenvolvimento das ciência,
a consolidação da exploração colonial e a derrocada das monarquias absolutistas
na Europa.
Após a
revolução, a economia francesa representava uma superestrutura erguida sobre a
base imóvel do campesinato e da pequena burguesia. Aos poucos, os trabalhadores
livres sem terras migravam para as cidades, resultando em uma alta velocidade
de urbanização. Da chegada de Napoleão Bonaparte ao poder até a sua deposição,
a França tornou-se mais rica e a Inglaterra, mais pobre. Um ano após a
publicação desta obra em livros, Paris chegou a superar Londres em reservas de capital.
Contudo,
décadas antes, a transformação capitalista da agricultura e da pequena empresa,
a condição essencial para um rápido crescimento econômico, foi reduzida a um
rastejo. A expansão da urbanização e do mercado doméstico aliado à
multiplicação da classe trabalhadora resultou em movimentos trabalhistas
longamente condenados.
O
crescimento econômico e o surgimento de novas invenções propiciaram uma grande
melhoria na qualidade de nós seres humanos. Contudo, isso ocorreu em convívio
com a miséria e o crescimento de desigualdades sociais. Essas estão intimamente
relacionadas a problemas vivenciados na ilha de Monte Cristo narrados nas partes
seguintes da obra aqui resenhada.
Na segunda
parte, Dumas passa os cinco primeiros capítulos contando sobre o que aconteceu
com Edmond após os seus 14 anos de prisão no castelo de If e nos próximos dois
sobre as pessoas envolvidas na armação que a ele o levaram. A partir de
então, passamos a acompanhar a casa Thomson & French e a sua relação com
Morrell, um personagem que aparece desde o início do livro e que esteve
vinculado a muitos pontos que ele desenvolveu do início ao fim.
A partir
desse momento, o livro passa a abordar dramas bem diversos dos que foram
abordados na primeira parte e na primeira metade da segunda. Os últimos não foram
apresentados de maneira suficientemente profunda e eu esperava por um detalhamento
mais profundo. E o início da apresentação de novos dramas me deixou com um
grande desejo de que esse livro se voltasse para os antigos.
Eis quando,
ainda na segunda parte, Albert de Morcef e Franz d’Epiney entram em cena. Eles
decidem ir à Ilha de Monte Cristo e nela passamos a ler várias cenas marcantes.
Conforme eu disse parágrafos atrás, o contexto socioeconômico da época resultou
em uma grande violência.
E foi isso
o que vimos após a chegada daqueles homens à ilha. Acreditem: a viagem não foi nada
menos que uma grande aventura digna de ser acompanhada no próprio livro. Em
seus desdobramentos, é apresentado o personagem Luigi Vampa, uma espécie de
chefe dos assaltantes que espalhava terror na ilha de Monte Cristo.
A edição da
obra que eu li possui 1663 páginas. A leitura requereu alguns meses de mim, mas
devido ao fato de outros afazeres roubarem-me tempo e eu dividir o empregado
nesta obra com outras. Mas é surpreendente o fato desse tijolão ser todo
preenchido com histórias.
Dumas não
despende muito tempo com descrições de paisagens ou da aparência dos
personagens. Ele basicamente narra tudo, fazendo com que a construção de
imagens em nossas mentes ocorra sem a menor dificuldade. É uma leitura bem
fluida, tal como era a dos materiais com os quais a obra aqui resenhada
disputava nos jornais.
Surgido no
século XIX, o gênero folhetim é uma invenção francesa que rapidamente se
espalhou para a Inglaterra, a Espanha e o Brasil. Fruto de empresários donos de
jornais, os folhetins estimularam as relações entre Jornalismo e Literatura.
Foi a
revolução burguesa de 1830 que lançou as bases jornalísticas das quais o
romance-folhetim se beneficiaria. Boa parte do seu público leitor era
proletário, o qual era recém-alfabetizado e improficiente em ler. A revolução
jornalística modificou a situação e, com a publicação de “Os Mistérios de Paris”
por Eugene Sue, o gênero atingiu o seu ápice na França em 1842.
Buscando
atender os gostos desse público, ele seguiu as tendências do mercado. Eles eram
marcados por uma linguagem fácil e por inserir cenas extraídas do próprio
cotidiano do público leitor. E foi o que vimos em “O Conde de Monte Cristo”.
Contudo, os
materiais produzidos dentro do gênero em muitos casos era frívolo e seguia
tendências marcadas. Em seus personagens, não havia como bem e mal habitarem uma
mesma mente. Seus enredos eram maniqueístas, não havendo nada além da bondade
ou da maldade puras.
Não havia
um aprofundamento psicológico dos personagens. Aos vilões caberia o castigo e
aos mocinhos a vitória. E é aqui que “O Conde de Monte Cristo” se mostra uma
obra completamente inovadora e diferenciada diante dos materiais com os quais
concorria nos jornais.
Antes de
empreender a sua leitura, vários comentários a seu respeito levaram-me a crer
que a sua história fosse sobre vingança. E sim, realmente o foi. Assistimos a
uma grande injustiça cometida contra Edmond Dantès e era de se esperar que
houvesse de sua parte um grande desejo por vingança.
E realmente
encontramos isso, mas não de um jeito tão óbvio. Após a chegada de Franz e
Morcef ao enredo, são narrados uma série de acontecimentos que desviam o foco
da narrativa da vingança de Dantès para outro plano. Até cheguei a me esquecer
desse ponto.
Na primeira
parte e na primeira metade da segunda, acompanhamos as circunstâncias sobre as
quais aquela injustiça aconteceu. Contudo, não conhecemos bem a história das
pessoas envolvidas. E o seguimento do enredo nos permite conhece-la bem melhor.
Confesso
que durante esse momento o meu sentimento de aversão por aqueles vilões foi
reduzido. Isso não significa dizer que o meu desejo por assistir à vingança de
Dantès tenha sido extinto. Mas a forma como o autor desenvolveu a história
ocorreu de uma forma que a trama estivesse muito além de uma luta do bem contra
o mal.
Assim
mesmo, os traços desse livro em comum com os folhetins também o engrandecem. A
necessidade por deixar os leitores dos folhetins com a ânsia pela continuação da
história fizeram com que cada um de seus capítulos possuísse acontecimentos
impactantes ou capazes de despertar a curiosidade do leitor pela sua
continuação. Além disso, o tamanho de cada capítulo era propício para uma
leitura rápida da obra.
Mas quem
não tem o hábito de leitura consolidado ou não conseguir administrar bem o
tempo para distribuí-lo bem entre leitura e outros afazeres também poderá
demorar, como foi o meu caso.
Conforme eu
já disse, a linguagem de Dumas nesta obra não é muito descritiva. Assim mesmo,
a profundidade psicológica de seus personagens é muito marcante. E acho que
devo exaltá-lo pela realização desse feito sem o uso de extensas descrições.
Muitas
pessoas já devem saber a identidade do Conde de Monte Cristo. Contudo, lendo a
obra eu só vi a revelação bem próximo ao final. Pode haver alguma falha de
minha atenção durante a leitura, mas não revelarei quem é o personagem pois
isso pode acabar constituindo um spoiler.
Todavia, eu
adorei a sua construção. Nela, há uma omissão de informações a seu respeito e
um distanciamento entre ele e o leitor que lhe atribuem um certo caráter
enigmático. E vejo nisso mais um motivo para não revelar a sua identidade. Era
um homem bastante inteligente, e foi uma experiência bastante aprazível
descobrir sobre os seus planos durante o enredo.
Além de
profundos, os personagens são bastante numerosos. Seus dramas chamam muito a
atenção, e eles vão se cruzando durante a história. Esse cruzamento não seria
bem feito sem grandes habilidades com a escrita.
Mais do que
profundos e com dramas dignos de serem lidos, Dumas soube como me cativar com a
construção de cada um deles. Soube, também, fazer com que eu partilhasse de
suas aflições, sendo-lhes empático. E isso explica o pesar que a morte de
alguns me trouxerem ao longo do enredo.
Esse, por
sua vez, abordou uma profusão de temas. Vingança, perdão, cobiça e misericórdia
foram apenas alguns. Especialmente no caso de Edmond Dantès.
Antes de
ser publicada em livro, a obra o foi em folhetins. Em sua origem, eles possuem
muitos elementos em comum com as cenas de teatro e com o melodrama. Vimos isso
em “O Conde de Monte Cristo”, o que pode explicar as emoções que a sua leitura
desperta.
A obra
passou por várias adaptações. Peças de teatro, novelas, séries, filmes e até um
anime ela já deu origem. E ela possui uma enorme influência sobre obras
ficcionais que a sucederam.
É difícil
não notar a influência de Edmond Dantès sobre qualquer anti-herói com um
passado injusto e sede de vingança. O final da obre me lembrou o final da
trilogia dos espinhos de Mark Lawrence, que é de fantasia. É uma série
incrível, mas que infelizmente eu não a resenhei por aqui.
Eu falei um
pouco sobre o contexto histórico que foi pano de fundo da obra. Nele, estão
imersos os dramas de seus personagens. Nela, eu pude notar um detalhe
mencionado em livros de História aos quais eu não me atinha: que mesmo após
eventos como a Revolução Francesa e a Revolução Industrial inglesa, a burguesia
continuava a comprar títulos para participar da nobreza de toga. O enredo desse
livro se passa entre 1815 e 1838.
Parágrafos
atrás, eu mencionei o fato dos dramas dessa história se intercruzarem em
momentos diversos e sobre o seu caráter melodramático. Próximo ao fim, Dantès
nos dá grandes ensinamentos sobre o perdão ao poupar a vida da filha daquele
responsável pela sua injusta prisão no castelo de If. Foi uma das cenas mais
marcantes da obra, e uma das mais comoventes.
“O Conde de Monte Cristo” já é uma das melhores leituras da minha vida. Recomendo-o a qualquer pessoa. Se ele já foi tão lido, não foi sem méritos o bastante. É uma história bastante longa, mas que flui sem dificuldades e que pode não requerer muito tempo de quem souber como administrar o que tem à disposição. Deixo aqui essa grande indicação de leitura.
Autor da resenha: Felipe Germano Monteiro leite
O Conde
de Monte Cristo (1846) | Ficha técnica:
Autor:
Alexandre Dumas
Título
original: Le Comte de Monte-Cristo
Número de
páginas: 1664
Nota: 10/10
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