[Resenha] Joyland - Stephen King
Sinopse: Carolina do Norte, 1973. O universitário Devin Jones começa um
trabalho temporário no parque Joyland, esperando esquecer a namorada que partiu
seu coração. Mas é outra garota que acaba mudando seu mundo para sempre: a
vítima de um serial killer.
Linda Grey foi morta no parque há anos, e diz a lenda que seu
espírito ainda assombra o trem fantasma. Não demora para que Devin embarque em
sua própria investigação, tentando juntar as pontas soltas do caso. O assassino
ainda está à solta, mas o espírito de Linda precisa ser libertado - e para isso
Dev conta com a ajuda de Mike, um menino com um dom especial e uma doença séria.
O destino de uma criança e a realidade sombria da vida vêm à
tona neste eletrizante mistério sobre amar e perder, sobre crescer e envelhecer
- e sobre aqueles que sequer tiveram a chance de passar por essas experiências
porque a morte lhes chegou cedo demais.
Opinião: "Joyland"
O terror
chegou à humanidade a partir do momento em que ela adotou explicações míticas
para fenômenos que não conseguia explicar racionalmente. Na Literatura, ele se
tornou em um gênero que teve como primeiro clássico “Castelo de Otranto” de
Horace Walpole, que também foi o precursor da Literatura gótica. Dentro do
gênero, Stephen King obteve um grande destaque e hoje possui mais de 400
milhões de cópias vendidas mundialmente, sendo o nono escritor mais traduzido
do planeta. Lançado pelo autor em 2013, “Joyland” explora um lado menos
trabalhado do horror: o da melancolia.
Na trama, Devin
Jones viaja para Joyland após lá conseguir um emprego. Era 1973, ano
considerado perdido pelo homem de, então, 21 anos. À época, ele mantinha um
relacionamento com Wendy Keegan, que trabalhava em Boston. Enquanto lia o Carolina Living, Devin viu um anúncio
com um convite para trabalhar em Joyland.
Wendy o
aconselha a fazer a entrevista, e ele vai. Lá chegando, Devin é entrevistado
por Fred Dean, o chefe de seus funcionários. Após conhecer Joyland, recebe um
convite para trabalhar como um Ajudante Feliz. Em seguida, King a apresenta
melhormente.
Joyland era
um parque de diversões incrível e bem singular. A ambientação da história
contribui para a sensação agradável de lê-la. E isso se deve à atmosfera
nostálgica e festiva que ela cria. Se há um autor que chama a minha atenção
pela sua originalidade, Stephen King o representa.
“Joyland”
nos apresenta um casal que poderia estar muito bem ser usado como um
clichezinho agradável de um romance young-adult, mas teve um destino bem
problemático. Poderia muito bem ser um romance histórico, mas as
contextualizações históricas servem apenas como ganchos para o ingresso do
protagonista em um mundo fantástico. Poderia muito ser um conto de H.P.
Lovecraft ambientado em cidades fictícias, mas Joyland nem de longe foi um palco
para explorar lendas sombrias.
Misturem
esses elementos e imagem o quão original é o enredo desse livro. Ele foi
contado por meio de uma linguagem simples, em primeira pessoa e que em diversos
momentos adotava um tom dialógico com o leitor, abstraindo a sua atenção. E o
tamanho dos capítulos? Bem curtos, terminando em muitas vezes com
acontecimentos que moviam o leitor a prosseguir com a leitura dos próximos.
Isso,
aliado à linearidade cronológica da história, explica porque ela não exige
tanto tempo para ser lida sem prejuízos de compreensão. Em Joyland, Devin Jones acaba
tomando conhecimento do assassinato de Linda Gray no Horror House, trem mal
assombrado pelo seu fantasma. O avançar do enredo traz explicações para esse
caso.
A
apresentação de Joyland foi bastante agradável. Me senti lendo “Harry Potter”
enquanto o bruxo ainda estava conhecendo Hogwarts e o mundo mágico concebido
por J.K. Rowling. O horror marca presença neste romance, mas ela foi bem
tímida. Apesar de ser um autor do gênero terror, em muitos de seus livros
Stephen King não mostra a intenção de fertilizar pesadelos em nossas mentes.
Esse foi o caso de “Joyland”.
O seu
enredo se passa no parque de diversões e no antigo lar de Devin. Nele, o seu
relacionamento com Wendy Keegan recebe atenção por parte do autor, e isso ocorreu
de uma forma que ele não foi ofuscado. Após a apresentação do assassinato de
Linda Gray, o meu desejo era o de que Stephen King centrasse a narrativa em sua
resolução.
Porém, após
chegar ao parque de diversões Devin conhece amigos, Tom e Erin. Também ganha um
mascote, o cãozinho Howie. E eles vivenciam acontecimentos juntos. Além disso, o
autor mostrou a preocupação de explicar os impactos que a nova rotina de Devin
em Joyland o promoveu.
Assim
mesmo, eu confesso que essa história me agradaria mais caso tivesse focada na
resolução do caso. Embora não seja um romance policial, “Joyland” em muito se
assemelha a um. Contudo, não pude constatar da parte de King um grande
interesse em transformar o caso de Linda Gray em um grande enigma a ser
desvendado pelo leitor.
Apesar do
desfecho, podemos considerar que na maior parte do tempo esse romance é
divertido. A princípio, o caso de Linda Gray não despertou um grande interesse
por parte de Devin Jones. Naquele período, o protagonista ainda estava na
escola.
No final do
verão, o parque fecha e Devin decide tirar nele um ano de folga. Em paralelo,
Erin realiza diversas pesquisas sobre o caso de Linda Gray e, na companhia de
Tom, vai a Joyland apresentar as suas descobertas a Devin. Antes disso, King
passa um bom narrando cenas que mostravam como era a vida no parque.
Em quase
todas as obras que li do autor, elas continham narrativas prolixas. Em “Joyland”,
King narra os fatos em lugar de descrevê-los. Isso proveu a narrativa de dinamismo,
mas confesso que as suas histórias de escrita prolixa conseguiam capturar
melhor a minha atenção. Mas a aqui resenhada não ficou em um patamar aquém das
demais por isso, e muita gente reclama do detalhamento excessivo da linguagem
do autor.
A
apresentação da vida em Joyland não despertou em mim grande curiosidade.
Parágrafos atrás eu disse que o autor conseguiu impedir que a vida de Devin
fora do seu novo trabalho fosse ofuscada. E isso se deve ao fato de que o autor
não lançou mão de recursos para tornar a vivência do protagonista em Joyland mais
interessante que a dos momentos em que narrava o seu relacionamento com Wendy Keegan.
Outro
aspecto que torna “Joyland” singular perante outras obras do autor está na
forma como a intertextualidade apareceu. Em outros livros, muitas vezes elas
acabavam revelando a inspiração criativa de King em relação a construção de cenas.
Aqui, as referências à cultura pop serviram mais como uma forma de despertar a
nostalgia do leitor, mas não mostraram uma influência tão decisiva no enredo.
“Joyland” possui
um elevado grau de apreciação dos fãs do autor em relação à obra. Contudo, eu
não consegui perceber da parte de King um grande interesse em trazer elementos
que despertassem a minha curiosidade a respeito dos dramas humanos que ele
apresentou. Assim como na última obra resenhada aqui no blog, uma dose maior de
polêmica bastaria para que esse problema fosse solucionado.
Demora até
Devin mostrar interesse na resolução do caso e a sua vivência em Joyland não
foi algo por que me interessei. Apenas uma opinião pessoal. Após conhecer Annie
e o seu filho Mike, acontecimentos relevantes contribuem para o avanço da
investigação. Eis quando a história passa a se tornar mais interessante para
mim.
Em “Joyland”,
vi King explorar um sobrenatural de uma forma mais singular do que o habitual.
Apesar de que haja elementos de terror, e de que para muitos a sua existência
depende do sobrenatural, essa história foi alegre durante a maior parte do
tempo. A meu ver, esse foi um dos principais fatores que explicam a melancolia
do desfecho da obra.
Não
consegui ter interesse na história dos amigos de Devin Jones. E uma dose maior
de polêmica poderia resolver o problema. Howie, o mascote, foi um cachorro bem
individualizado, mas assim mesmo não teve aquele carisma de Oi de “A Torre
Negra”. Do meio para o fim, King explora acontecimentos corriqueiros de forma a
torna-los marcantes.
Esse também
foi um fator que explica a melancolia do desfecho. E explica por que a ausência
de uma personalidade marcante desses personagens não me incomodou no final das
contas. Mike e Annie, por outro lado, foram personagens que me marcaram e
também colaboraram para a sensação de tristeza causada pelo fim da história.
A falha do
autor foi o de não utilizá-los de forma estratégia para tornar a resolução do
caso em algo interessante ou com grandes descobertas ao olhar do leitor. Assim
mesmo, é possível afirmar que essa história seja muito bem construída e com um
ritmo bem dosado.
Conforme eu disse ao longo dessa resenha, o desfecho de “Joyland” é extremamente melancólico. Ele foi, na minha opinião, o grande trunfo da obra. E foi extremamente coerente. Apesar das pequenas imperfeições que eu elenquei ao longo da resenha, a obra foi para mim uma leitura extremamente agradável. E que, devido ao fato dela não ser aterrorizante, eu a indico a leitores de todos os públicos.
Autor da resenha: Felipe Germano Monteiro Leite
Joyland (2013) | Ficha técnica:
Título original: Joyland
Autor: Stephen King
Páginas: 240
Nota: 8/10
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