[Resenha] A Guerra da Rainha Vermelha (Prince of Fools Livro 1) - Mark Lawrence
Sinopse: Sou
um mentiroso, um trapaceiro e um covarde, mas nunca, jamais, irei decepcionar
um amigo. A menos que, para não decepcioná-lo, seja preciso demonstrar
honestidade, jogo limpo ou bravura. Assim se apresenta Jalan Kendeth, o neto da
Rainha Vermelha e décimo na linha de sucessão ao trono. Um verdadeiro hedonista
sem pretensões políticas, que se vê obrigado a abandonar sua boa vida após
sofrer uma tentativa de assassinato. Para escapar, precisa se aliar a um
perigoso guerreiro.
Mark
Lawrence novamente cria um anti-herói irresistível. Por que mesmo estamos
torcendo por eles? é uma pergunta comum entre os cada vez mais numerosos
leitores de suas aventuras. A resposta, certamente, está no talento com que o
autor conduz seus personagens e narrativas. E desta vez, a violência e o rancor
de Jorg Ancrath, da Trilogia dos Espinhos, é substituída pela astúcia e charme
do Príncipe dos Tolos.
Em comum,
as duas trilogias dividem o mesmo cenário, um universo pós-apocalíptico e de
inspiração medieval. Se você não via a hora de voltar ao Império Destruído,
esta é sua chance, com esta nova saga do universo expandido da Trilogia dos
Espinhos.
Opinião: “Prince
of Fools”
Etimologicamente,
o termo “coragem” se origina do baixo latim caraticum.
A coragem extrai forças das camadas mais profundas e íntimas do ser humano. Em
todo o mundo, a coragem é considerada uma grande virtude. Na ficção, ela é
naturalmente tida como uma das virtudes mais necessárias para a construção de heróis.
A
princípio, Jalan Kendeth, protagonista da obra aqui resenhada, não é portador
dessa virtude. Jal ocupava a décima posição na sucessão da rainha Vermelha, sua
avó. Ele habitava Marcha Vermelha, outro “país” do mesmo universo pós-apocalíptico
que ambienta a trilogia dos Espinhos, também desse autor.
Diferente
de Jorg Ancraft, Jal não tinha uma vida difícil ou propósitos muito
desafiadores a cumprir enquanto vivesse. Pelo menos até o momento em que esse
livro se passa, claro. Jalan era covarde e mentiroso. Conhecido por ser o herói
da Passagem Aral, o protagonista tinha o respeito de muitos.
Contudo, ele
não era bem visto por todos e deseja conquistar mais prestígio. Certo dia, Jal
conhece Snorri ver Snagason, nórdico pertencente a um povo denominado undoreth.
Ele chegou a Macha Vermelha como um escravo. O livro fornece explicações a
respeito, mas nos deixa ávidos por um detalhamento mais profundo dessa questão.
Além de eu
não haver considerado a explicação satisfatória, outro fator que alimenta a minha curiosidade está no fato de logo em seguida Snorri
demonstrar ser portador de uma grande força física e de grandes habilidades para
um confronto físico, o que lhe permitiu derrotar capangas de Maeres Allus, importante personagem da história. Certo
dia, enquanto estava no palácio de Vermillion, acontecimentos inexplicáveis
ocorrem a Jalan. Ele consegue escapar do castelo com o auxílio de Snorri, e com
ele empreende uma grande jornada rumo ao norte do mundo fantástico concebido
por Mark Lawrence.
“Prince of
Fools” é um livro de fantasia, mas não é tão fácil de ser lido. Narrado em
primeira pessoa por Jalan Kendeth, o autor menciona diversos lugares e
personagens não conhecidos pelo leitor e pelo próprio protagonista, o que
promove uma sensação de desorientação. Esses personagens simplesmente citados
não tiveram participação decisiva no enredo, o que talvez explique por que Mark
Lawrence não os tenha desenvolvido mas não deixe de promover essa sensação
desagradável no leitor.
A narrativa
consegue apreender a sua atenção e é bem verossímil, além de ser sincera.
Contudo, a escrita do autor particularmente não me agradou. Além disso, eu não
consegui ter o menor sentimento de empatia por Jalan. Terá sido isso parte de
alguma estratégia do autor?
Em caso
positivo, eu não consegui identifica-la. Diferente de Jorg Ancrath,
protagonista da trilogia dos espinhos, as motivações de Jalan não são tão
claras. O considero menos cativante que o protagonista da trilogia anterior.
Conforme a
narrativa avança, é mencionado um feitiço lançado contra Jalan pela Irmã Silenciosa,
que convivia com a Rainha Vermelha. Embora o motivo por que Jalan participou
dessa jornada não tenha sido tão bem explicado, acontecimentos envolvidos a
esse feitiço ocorrem durante o enredo, trazendo sentido às aventuras do
protagonista.
Se por um lado Jalan não tinha tantos motivos para viajar ao norte desse mundo, Mark Lawrence expôs muito bem os de Snorri. O guerreiro precisava retornar às suas origens para resolver problemas familiares. Embora muito se tenha falado sobre o passado de Snorri, o autor deixou muitos pontos a explicar nos livros seguintes da série.
Enquanto as
habilidades de Snorri foram bem apresentadas ao leitor, as de Jal aparentemente
serão nos próximos livros. O feitiço que lhe foi lançado pela Irmã Silenciosa
privava-o do uso da magia. O momento em que Jal passa a ter maior domínio sobre
a magia é um marco para as cenas de ação dessa história.
Antes disso, Snorri quase sempre salva o protagonista de enrascadas. Embora
imprimissem suspense e tensão ao enredo, elas sempre ocorriam de surpresa e
acabavam sendo previsíveis. Cumpre notar que, apesar disso, elas foram muito bem
construídas. Eu só esperava mais diante do que li nos dois primeiros volumes da
trilogia dos espinhos.
Iniciei a
leitura de “Prince of Fools” mesmo sob aviso de leitores do autor que isso não
era aconselhável a quem não concluiu a leitura da trilogia dos espinhos. Até
que ponto isso me prejudicou? Fiquei meio perdido em relação a algumas partes
da história.
Também
ocorreu um momento em que Jal e Snorri passaram por Ancrath, que compunha a
ambientação da trilogia dos espinhos. Não houve grandes prejuízos, mas
aconselho ao pretendente à leitura deste livro que o faça após concluir a
trilogia anterior.
Eu disse
anteriormente que a forma como esse história foi contada é bem verossímil.
Contudo, duas coisas do enredo foram-me difíceis de engolir. A primeira é
o fato de Jalan haver empreendido essa jornada tão perigosa sem, a princípio,
ter motivos tão claros.
Nesse
aspecto, ele me lembra Bilbo Bolseiro em “O Hobbit”. Acontece que, com o avançar
da narrativa, as aventuras vivenciadas pelo hobbit adquiriram sentido. Até certo
ponto as de Jalan também, e acredito que nos próximos volumes da série o
ocorrido a Bilbo também lhe ocorra.
A segunda
está na lealdade de Snorri a Jalan enquanto ambos encontravam-se a uma enorme
distância de Marcha Vermelha. O viking geralmente tirava Jal de apuros e em
poucos momentos entrava em conflito com ele. O fato de acompanhar o
protagonista da história em uma grande jornada torna uma comparação entre ele e
Gollum de “O Senhor dos Aneis” bem válida, apesar do viking demonstrar ser leal e não possuir uma aparência esquisita
Porém, até
o momento em que o livro termina Snorri não mostra conflitos de
interesse em relação a Jalan. Tenho grande curiosidade se a relação entre eles
continuará amistosa nos livros seguintes da série. Uma das temáticas dessa obra
está no modo de vida dos nórdicos.
Os vikings
da História do nosso mundo tinham um grande espírito de navegação. Sua
tecnologia náutica era bem desenvolvida. Vemos esse espírito em Snorri.
Vikings
eram politeístas, e os deuses mais famosos que cultuavam eram Thor e Odin. Ao
longo da narrativa, os vemos ser mencionados. Além disso, havia características
em comum entre eles e alguns personagens. Os valores guerreiros e as noções
desse povo sobre a família e a mulher foram muito bem retratados por Mark Lawrence.
É bem clara
a inspiração desse universo fantástico na mitologia nórdica. Porém, também
pude notar uma influência da religião cristã. No livro há anjos e demônios. Dos
livros de fantasia que eu li, os valores cristãos normalmente influenciavam
apenas a concepção dos personagens. Mark Lawrence foi o primeiro autor a me
mostrar influência de ambas as crenças na concepção de criaturas mágicas.
Dos autores
que eu li até o momento, cumpre lembrar. O mapa contido no livro não mostrou
uma utilidade tão grande. Aliás, em alguns momentos ele foi útil, mas em outras situações em não consegui localizar regiões mencionadas pelo autor para
me manter situado em relação ao enredo.
A nota que
eu atribuo ao livro não recebeu influência disso porque em alguns momentos a
minha leitura precisou ser mais corrida e menos atenta e eu não tenho certeza
se o autor forneceu pistas para interpretar o mapa. Qual a função de um mapa no
nosso mundo? Além de outros usos, nos situar perante o planeta.
Em livros
de alta fantasia ou em livros que se passem em outros mundos é possível que
mapas façam falta. Porém, é importante que eles não sejam concebidos para cumprirem
uma função decorativa. Feito com essa intenção, um mapa não mostrará grande
utilidade e um autor se desgastará em vão para cria-lo.
Em
comparação com a trilogia dos espinhos, a leitura do livro aqui resenhado me
foi mais fácil. É preciso lembrar que o meu julgamento pode ser errôneo por eu
não haver concluído a leitura da trilogia anterior. E é impossível não fazer um
comparativo entre Jalan Kendeth e Jorg Ancrath.
Considero a
construção de Jalan mais sincera. Porém, julgo Jorg um personagem mais
carismático. Suas motivações são mais claras que as de Jalan. Diferente do último, eu consegui ser empático aos seus propósitos de vida. O meu julgamento
pode mudar após a leitura da continuação dessa história, cumpre notar.
Apesar das críticas contidas nesta resenha, “Prince of Fools” certamente agradará os leitores de fantasia. Isso ocorreu comigo, embora eu tenha apontado esses pequenos defeitos, e acredito que o meu grau de apreciação em relação à série só crescerá nos próximos livros. Fica a indicação de leitura para quem gosta do gênero.
Autor da resenha: Felipe Germano Monteiro Leite
A Guerra da Rainha Vermelha (Prince
of Fools Livro 1) (2015) |
Ficha técnica
Autor: Mark Lawrence
Número de páginas: 420
Nota: 8/10
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