[Resenha] Os Olhos do Dragão - Stephen King

 


Sinopse: O mago da corte de Delain, Flagg, decide que agora, depois de quatrocentos anos de espera é a sua vez de governar.

Para isso cria um plano para matar o velho rei e incriminar seu filho mais velho, Pedro, deixando o trono para o mais novo, Tomás, que podia ser facilmente controlado pelo mago.

O principe Pedro é incriminado e condenado a passar o resto dos dias no Obelisco, onde a única coisa que ele pode fazer é planejar sua fuga e um jeito de punir o verdadeiro culpado pela morte de seu pai.


Opinião: “Os Olhos do Dragão”

A indústria editorial é dividida em segmentos. Um deles é o da literatura do horror, o qual não apenas seduz jovens leitores como os fidelizam e os mantém mesmo após amadurecerem e envelhecerem. O objeto principal da literatura do horror é o medo.  Dos autores do gênero, Stephen King é, sem sombra de dúvidas, um dos mais importantes. Atualmente, ele é considerado o mestre do terror da contemporaneidade.

Autores do gênero têm no preconceito contra o terror um grande obstáculo para obterem êxito comercial. Aqui no Brasil, embora fiel, o nicho é bem modesto. O preconceito é compreensível: por que ler um livro de um gênero tão violento em meio a um mundo cuja violência já é enorme?

Há controversas em relação a isso. Contudo, é ele que explica por que muitas pessoas se recusam a ler narrativas de terror. Uma delas foi Naomi King, filha de Stephen King, que aos 13 anos temia livros de terror. Stephen King, nesse contexto, escreve “Os Olhos do Dragão”, obra aqui resenhada.

A história contada no livro é bem diferente do que Stephen King costuma entregar aos seus leitores. Tudo se passa no reino de Delain, que tinha Roland como rei. Ele era considerado um rei mediano, e na época no qual o enredo do livro se passa já tinha 70 anos.

Roland se casou bem tarde. Sua mãe governou Delain por muito tempo. Aos 50 anos, Roland ainda não tinha filhos. Um rei sem herdeiros era um grande problema. Para solucionar o problema, Roland escolhe uma mulher com a qual se casaria. Sasha era o nome da escolhida.

A esposa do rei tinha 17 anos de idade, 33 anos a menos que ele. Roland chegou a idade que possuía sem grande conhecimento sobre o processo de reprodução humana. Tinha, também, problemas com a ereção, precisando tomar porções preparada por Randall Flagg, mago conselheiro, para resolvê-los. Roland e Sasha dormiam em quartos separados.

Quatro anos após o casamento, rei e rainha têm o seu primeiro filho, Peter. A ocasião não precisou das porções de Randall Flagg. Peter era um menino bastante talentoso e tinha grande afeição de seus pais. Thomas, o segundo filho de Roland e Sasha, não teve a mesma sorte: por não possuir os mesmos talentos de Peter, não conseguiu conquistar a mesma afeição de seu pai.

O nascimento de Thomas ocorreu à custa da morte de Sasha durante o parto. Desde o nascimento de Peter, Sasha desejava que o seu primogênito se tornasse rei de Delain. A educação que Peter recebeu se baseou nessa pretensão.

Contudo, Randall Flagg, que nutre grande antipatia por Sasha, se opunha a isso e desejava que Thomas fosse coroado rei em lugar de Peter. Flagg era perverso e estava disposto a causar a ruína de Peter. O traiçoeiro mago conseguiria atingir o seu objetivo?

Em “Os Olhos do Dragão”, vi King escrever uma história de um jeito completamente diferente de seus outros livros. A sua narrativa é bastante similar à de Howard Pyle em “O Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda”. A influência das lendas arturianas não está somente no modo como o enredo do livro aqui resenhado é contado, mas em seu próprio processo criativo.

Randall Flagg, vilão de diversos outros livros de King, na história aparece como uma releitura do mago Merlin. Porém, com um caráter malevolente. Ele também me pareceu bastante com Sauron no período em que ele era servo e aprendiz de Morgoth, então senhor do escuro. Se você tem apreço por livros arturianos ou por romances de cavalaria, verá a influência que eles exerceram em King na concepção de “Os Olhos do Dragão”.

Um aspecto positivo é que essa influência não comprometeu a originalidade do livro de King. Vemos tudo sendo bem reinventado e adaptado ao enredo. É natural que um autor que se inspire em outro crie uma narrativa previsível. Em “Os Olhos do Dragão”, o enredo não é nada previsível ou clichê.

No terror, King nos entregou histórias com narrativas bem prolixas. Em diversos livros, como “A Coisa”, “O Iluminado” e “O Cemitério”, ela funcionou bem e o autor conquistou a minha fidelidade como leitor. Em outros, como “Insônia”, isso não chegou a ocorrer, pois a história tardou demais para engatar.

Em “Os Olhos do Dragão”, a sua narrativa possui características bem opostas às da maioria de seus outros livros. A maioria dos capítulos possuem uma ou duas páginas. Raros chegam em cinco, alguns possuem somente um ou dois parágrafos.

Algumas descrições do autor são extensas, mas de uma forma bem moderada em comparação com outros livros que escreveu no gênero terror. A história é contada de um jeito bem parecido com o de contos de fada. Tive a impressão de o autor se esforçar para se adaptar ao público infantil. E ele foi muito bem sucedido em relação a isso.

Conforme o enredo avança, King reflete sobre alguns temas, como a esperança, a fé e a amizade. Em livros de fantasia, é comum que ansiemos por aventuras e cenas de ação. Em “Os Olhos do Dragão”, há um foco do autor em aspectos políticos e psicológicos dos personagens.

Outra diferença marcante entre o livro e outros do gênero é relacionada à construção do universo mítico. Naturalmente, vemos os autores dedicarem boa parte da história a apresenta-lo ao leitor. Em “Os Olhos do Dragão”, King apresenta apenas os elementos que repercutem sobre o enredo.

Considero a apresentação do universo fantástico como algo essencial para que a imaginação do leitor adentre na história. Porém, em “Os Olhos do Dragão” a ausência dessa construção não fez falta. Talvez fizesse caso King desejasse inserir os personagens que criou em grandes aventuras, o que não chegou a ocorrer.

“Os Olhos do Dragão” não reúne muitas das características que os fãs do autor apreciam em seus livros. Porém, a história nele contida revela importantes informações a respeito de Randall Flagg, vilão de muitos livros do autor, como “A Dança da Morte”, “Sob a Redoma” e a série “A Torre Negra”. É importante mencionar que nos referidos livros King não fala muito a respeito das origens de Randall Flagg, o que faz de “Os Olhos do Dragão” um livro com muitas curiosidades sobre o vilão.

O livro aqui resenhado é um dos que recebe a menor atenção dos fãs do autor. Mesmo entre aqueles que já o leram prevalece a opinião de que a obra não está no mesmo patamar de várias outras escritas por King. Lendo “Os Olhos do Dragão”, não foi essa a impressão que tive: King adaptou a sua escrita a um público diverso do que atraiu com o gênero terror e, nessa tentativa, entregou uma história muito interessante e agradável de ser lida. Podemos considerar que ela não esteja entre as suas obras mais importantes. Porém, eu posso considera-la como uma das que mais conquistaram o meu apreço. A indico aos leitores da fantasia inspirada nas lendas do rei Arthur e aos fãs do autor interessados em saber mais sobre Randall Flagg.

                                                                                              Autor da resenha: Felipe Germano Monteiro Leite

Os Olhos do Dragão (1984) | Ficha Técnica

Título original: The Eyes of the Dragon

Editora: Suma de Letras

Páginas:321

Nota: 9/10



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