[Resenha] Amor(es) Verdadeiro(s) - Taylor Jenkins Reid


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Sinopse: Emma Blair casou com seu namorado do colegial, Jesse, quando tinha vinte anos. Juntos, eles construíram uma vida diferente das expectativas de seus pais e das pessoas de sua cidade natal, Massachusetts. Sem perder nenhuma oportunidade de viver novas aventuras, eles viajam o mundo todo, curtindo a vida ao máximo.

Mas, em vez do tradicional "e viveram felizes para sempre", uma tragédia separa os dois, no dia do seu aniversário de um ano de casamento. O helicóptero com o qual Jesse sobrevoava o Pacífico desaparece e, simples assim, o amor da vida de Emma se vai para sempre.

Emma volta para sua cidade natal em uma tentativa de reconstruir a vida e, depois de anos de luto, reencontra um velho amigo, Sam, que lhe mostra ser, sim, possível se apaixonar novamente. E quando os dois ficam noivos? Emma sente que a vida lhe deu uma segunda chance de ser feliz.

Pelo menos é o que parece — até que Jesse é encontrado. Ele está vivo e tentou voltar para casa, para Emma, todos esses anos que passou desaparecido. Agora, com um marido e um noivo, Emma precisa descobrir quem ela é e o que quer, enquanto tenta proteger todos que ama.

Emma sabe que precisa escutar seu coração, ela só não tem certeza se sabe o que ele está querendo dizer.

 

Opinião: Amor(es) Verdadeiro(s)

   Emma Blair, aos 31 anos de idade, encontrava-se na festa de aniversário de seu pai na companhia de Sam Kemper, seu noivo, com o qual pretendia se casar em um futuro não tão distante. Para Emma, seu noivo era bonito na mais bela forma.

   Emma é irmã de Marie, que na festa comemorativa encontrava-se casada com Mike e tinha duas filhas: Sophie e Ava. Suas filhas não estavam presentes na ocasião e Marie, com o objetivo de poder se dedicar ao cuidado das meninas, decide ir embora.

   Os pais de Emma estavam preocupados com outras responsabilidades dela e de Sam, e decidem pedir a conta. Partindo em direção a seu carro, Emma recebe uma ligação de um desconhecido: era Jesse, sua antiga paixão, que fora vítima de um acidente e dado como morto.

    A ligação surpreendeu Emma. Antes do acidente, Jesse era o grande amor de Emma, marcando profundamente a sua vida. Contudo, após tanto tempo acreditando haver perdido Jesse, Emma construiu uma vida nova e se afeiçoou a outras pessoas.

   Estaria Emma disposta a abandonar Sam Kemper para restabelecer o seu relacionamento com Jesse? Somente a leitura da obra poderá fornecer essa resposta e acredite: se eu informá-la, a leitura de “Amor(es) Verdadeiro(s) perderá sentido.

   Contudo, nada me impede de continuar a falar sobre o enredo, o que, na realidade, despertará a curiosidade do leitor desta resenha crítica em relação à história. Pois bem...

   Após a narração da ocasião em que Jesse, que supostamente morrera em um acidente, retorna, Taylor Jenkins Reid, a autora de “Amor(es) Verdadeiro(s)” passa a nosso contar sobre como era a vida de Emma Blair, bem como sobre as circunstâncias em que conheceu Jesse.

    Os pais de Emma eram proprietários da livraria Blair, fundada em 1960. Emma trabalha na livraria para ajudar os seus pais. Em alguns momentos, nos quais deseja se envolver em outras atividades, trabalhava na livraria apenas por obrigação. 

    Marie, irmã de Emma, à época fazia o perfil de descolada na escola. Marie atendia a padrões idealizados pela sociedade, e Emma temia não conseguir ser como ela. E, realmente, Emma não foi uma garota tão popular no colegial.

   Sam Kemper, que no primeiro capítulo era noivo de Emma, estava no segundo ano do Ensino Médio. Ele conseguiu obter emprego na livraria Blair. Para Marie, Sam era uma “gracinha”, o que o tornava incapaz de ser amado por Emma, que devido ao sentimento de inferioridade que tinha em relação a sua irmã, perdia interesse em rapazes que despertavam a admiração de Marie.

   Marie escrevia poesia e, diferente da maioria das adolescentes de sua época, apaixonava-se por personagens fictícios de livros e não por atores de Hollywood. Quando tinha a idade de Emma, Marie aspirava a se tornar escritora.

   No período colegial, Emma estabeleceu um forte vínculo de amizade com Olive. Após conhecer Jesse, Olive sugere que Emma se apresente a ele. A título de curiosidade, Olive era bissexual e os seus pais estavam à beira do divórcio.

   Para Emma, Jesse era o tipo de rapaz que a faria se esquecer de Keanu Reeves, que possui o perfil de garoto popular que desperta a atenção de todas as meninas.

   Antes de conhecer e se envolver com Jesse, Emma tinha com Sam uma relação amistosa. Sam tocava instrumentos, e comparava o seu aprendizado ao aprendizado de idiomas.

   Jesse era namorado de Carolyn e Emma considerava que ele fosse muita areia para o seu caminhão. Eis por que demoraram a se conhecer.

   No primeiro capítulo, Taylor menciona diversos personagens que ainda não foram construídos ao longo da história. Além disso, não menciona como Emma e Jesse se conheceram e nem as circunstâncias em que ocorreu o acidente que supostamente levou a sua morte. Isso desperta a curiosidade do leitor, coagindo-o a prosseguir com a leitura da obra.

    Esse recurso foi usado durante toda a história. Após responder a esses questionamentos em uma das subdivisões do enredo, Taylor deixa mais pontos a serem esclarecidos nas partes seguintes: como Emma e Sam desenvolveram um relacionamento sério após a “morte” de Jesse, tendo em consideração o fato de que a sua rivalidade com Marie fizera com que ela perdesse o interesse em Sam já durante o período colegial?

   Durante o período em que esteve com Jesse, Emma teve a sua personalidade e a sua forma de enxergar o mundo moldadas. Jesse praticava natação, e tinha sobre os seus ombros a obrigação de obter sucesso tanto nessa prática desportiva quanto nos estudos, precisando deixar outras ambições em prioridade secundária. Emma também tinha outras ambições, mas precisou abrir mão de algumas delas para se dedicar ao cuidado da livraria dos seus pais.

   Jesse incutiu na mente de Emma a visão de que o futuro de cada pessoa deve ser decidido com base em suas próprias ambições, e não em projetos que os nossos pais criam para nós. Emma adere a essa visão e passa a viver de aventuras com Jesse. Contudo, após a morte de Jesse, Emma retorna a sua antiga cidade e volta a cuidar da livraria Blair, assumindo então o cargo de gerente.

   Como ocorreu essa tão abrupta mudança de visão de mundo? Esses e outros questionamentos são levantados após a autora finalizar cada parte em que dividiu a história, estimulando o leitor a prosseguir com a leitura.

   A sua escrita é leve, não trazendo obstáculos de entendimento ao leitor. A autora sabe apresentar as características físicas e psicológicas dos personagens ao leitor sem tornar a narrativa prolixa, induzindo o leitor a dar seguimento à leitura à medida em que vai apresentando essas características em capítulos subsequentes, instigando a sua curiosidade a partir de ganchos e pontas soltas a serem unidas no decurso da história.

    A narrativa é bastante coesa e flui bem. Contudo, ela não chega a ser eletrizante como muitos outros livros do gênero são. Na minha opinião, nem precisa ser, o ritmo está adequado, pelo menos a meu ver.

   Como esperado para os livros de ficção lançados na contemporaneidade, há a problematização de diversos problemas sociais em “Amor(es) Verdadeiro(s)”. Um deles é o da construção de padrões de beleza e a sua imposição à sociedade.

   Para compreender esse tema, é preciso ter em mente que o que é considerado belo na China, por exemplo, não necessariamente o será na Indonésia. O que é tido como belo no Brasil não necessariamente o será em Bangladesh.

   Sendo assim, é possível que o leitor brasileiro julgue estranho o fato de Emma Blair, protagonista da história, se sentir desconfortável com o fato de possuir nádegas avantajadas. Enquanto aqui no Brasil mulheres com a região glútea bem desenvolvida se adequam perfeitamente aos padrões de beleza, não é isso o que ocorre em outros países.

   Nos dias que correm, vemos padrões de beleza se formarem e serem disseminados por meio dos meios de comunicação de massa. Não é algo exclusivo da atualidade a ocorrência da concepção de padrões de beleza bem como a sua imposição à sociedade.

   No Egito Antigo, ocorreu a formação de um grande arsenal de cuidados com a pele. Já na Grécia Antiga, a concepção de beleza tinha por base os seguintes elementos: clareza, simetria, harmonia e cor intensa. Além de levar em consideração fatores estéticos, a noção grega de beleza também contemplava o caráter do indivíduo. Em Roma, indivíduos magros possuíam uma maior apreciação que os indivíduos com sobrepeso.

   No contexto romano, o culto à magreza levava à prática da bulimia com o intuito de evitar o ganho de peso. Percebemos aqui que a formação de padrões de beleza podem trazer diversos revezes às pessoas.

   Na Idade Média, padrões de beleza sofreram forte influência clerical. À época, valorizava-se a beleza natural e virginal, sendo o uso de cosméticos e demais utensílios de beleza condenado. A gordura era vista como erótica e sedutora e, por isso, valorizava-se a mulher corpulenta e polpuda.

   Com o inaugurar do Renascimento, ocorre um retorno à valorização dos valores greco-romanos de beleza. O uso de cosméticos perdeu o seu viés de malevolência e passou a ter um caráter de conquista. Contudo, surgiram discussões a respeito do uso de ferramentas estéticas haver criado ou não um padrão de beleza honesto.

   Nos séculos XVI e XVII, a imagem feminina foi trazida como sinônimo de beleza e passou a ser retratada na arte de forma mais discreta, estando mais associada aos papeis de mãe, educadora e dona de casa. No século XVIII, a concepção de beleza estava associada à capacidade do indivíduo de produzir ou julgar algo como belo. No século XIX, vigorou a visão da beleza como algo indefinível e não natural. 

   O século XX veio para romper com paradigmas. A beleza passou a representar algo mais prioritário que a salvação da alma e o culto ao corpo toma o lugar do culto à alma. Através dos veículos de comunicação, padrões de beleza foram reproduzidos e generalizados mundialmente, reforçando padrões estéticos a serem seguidos.

   A partir da segunda metade do século XX, padrões de beleza foram constantemente substituídos após a criação de novos. Nos anos 50, o ideal de beleza tido como universal era o do corpo feminino esguio e sedutor. A partir de 1969, após a emergência de concursos de beleza, passa a haver o culto ao corpo magro.

   Na década de 80, a busca por atender aos padrões de beleza foram associados à qualidade de vida, o que levou a interpretações conspurcadas sobre saúde e bem estar. Na década de 90, ocorreu a disseminação da visão do corpo perfeito como sendo magro, o qual deveria constituir uma meta a ser perseguida. Hoje, no século XXI, há discussões sobre como o discurso sobre a beleza na publicidade reforça padrões específicos de beleza.

   A análise histórica da formação de padrões de beleza, bem como de sua disseminação e posterior substituição por novos padrões evidenciam a necessidade de se relativizar aquilo que se toma por belo. A partir disso, a beleza seria contemplada a partir de noções subjetivas, e não a partir de modelos excludentes e discriminatórios.

   A imposição desses modelos está associada ao recrudescimento de diversos problemas de saúde vivenciados em uma proporção cada vez maior entre os cidadãos. Dentre eles, podemos citar a anorexia e a bulimia. Além de problemas de saúde, a ditadura da beleza ainda pode causar problemas psicológicos e o desconforto que as pessoas têm em relação a si próprias.

   É isso o que ocorre em “Amor(es) Verdadeiro(s)”. Emma não se sente bem com o seu corpo e queria que ele fosse mais próximo do de sua mãe e o de sua irmã, Marie. Apesar de evidenciar a opressão que um modelo de beleza disseminado no interior de um país causa, como foi o caso do desconforto que Emma sentia em relação à sua região glútea, em “Amor(es) Verdadeiro(s)” houve certa relativização em relação a apreciação de padrões de beleza. Embora a história seja ambientada nos Estados Unidos, Emma via beleza em Sam, que possuía traços físicos semelhantes aos brasileiros, o qual era filho de uma mãe descendente de brasileiros

   Outra questão abordada pelo livro foi a rivalidade entre irmãs. Atualmente, o tema é bastante estudado. Contudo, dos autores clássicos, somente Freud e Lacan por ele se interessaram. Em “O Complexo Fraterno. Estudo Psicanalítico”, Luis Kancyper conceitua o irmão como a primeira aparição do estranho na infância para o primogênito no seio familiar.

   Para Kancyper, o nascimento do segundo filho representa o início de partilhas. O primogênito deveria reavaliar a sua forma de enxergar o mundo tendo em consideração o seu irmão mais novo.

   Em 1916, Sigmund Freud chegou a afirmar que nesse contexto inédito de partilhas uma criança pequena não necessariamente ama os seus irmãos e irmãs, podendo chegar a odiá-los e a vê-los como rivais. Para ele, essa condição poderia perdurar durante um bom tempo. Freud acreditava a vinda de um irmão ao mundo seria vista como a chegada de um rival que ameaçaria a supremacia do primogênito.

   Em “Amor(es) Verdadeiro(s)”, vemos outro lado da rivalidade entre irmãos, o qual é digno de maiores estudos por parte da Psicanálise. Na obra, o sentimento de inveja não parte do irmão mais velho para o irmão mais novo. Irmã mais velha e irmã mais nova, no caso. Ele parte da irmã mais nova em relação a mais velha.

    Emma se sentia inferior à Marie desde o período colegial. Diferente da irmã mais velha, Emma não fazia o perfil de garota popular. Além disso, Marie era portadora de habilidades que não eram partilhadas por Emma. Após adentrar a fase adulta, Emma conseguiu superar o seu complexo de inferioridade em relação à Marie.

   Contudo, a autora não fornece as circunstâncias em que a dissolução dessa rivalidade ocorre, o que, a meu ver, representa um defeito para a narrativa. Há outros pontos que, a meu ver, também não foram bem esclarecidos.

   Após se casar com Jesse, Emma mudou radicalmente o seu estilo de vida, passando a participar de várias viagens movidas pelo desejo de aventura que partilhava com o seu então marido. Além disso, Emma passou a adotar o sobrenome Lerner de Jesse. Contudo, após o acidente que supostamente ceifara a vida de seu cônjuge, Emma retorna a seu antigo estilo de vida e volta a usar o sobrenome Blair.

   Os aspectos psicológicos envolvidos nessas radicais mudanças são pouco trabalhados pela autora, o que teve o efeito de tornar a história menos interessante e complexa.

   Há diferenças marcantes nos relacionamentos que Emma teve com Jesse e com Sam. Com Jesse, tudo ocorre de forma abrupta: após a ruptura de seu relacionamento com Carolyn, Jesse conhece Emma e rapidamente estabelece um relacionamento com a garota. Em não muito tempo, Emma e Jesse se casam. Conforme mencionado anteriormente, Emma muda completamente o seu estilo de vida após conhecer Jesse.

   Após a suposta morte de Jesse, Emma retorna a seu antigo lar. Durante um bom tempo, não se sentia viva por Jesse não estar mais vivo. Marie engravidou de gêmeas, e para dedicar maior tempo ao cuidado de suas filhas, decide abandonar a livraria Blair.

   Eis o contexto que permitiu a Emma tornar-se gerente da livraria de seus pais. Emma inaugura uma nova fase de sua vida e decide tocar piano. Na ocasião, se reencontra com Sam Kemper. Nesse reencontro, Emma ainda tinha a imagem de Jesse em sua mente.

   Em função disso, o relacionamento entre ela e Sam demora mais a acontecer. Isso me transmitiu a impressão de que Sam não possuía grande potencial de habitar o coração de Emma.

   O desenvolvimento do triângulo amoroso pela autora me pareceu clichê, e trouxe vários aspectos em comum com desenvolvido na saga “Crepúsculo” entre Bella, Edward e Jacob. Aliás, acredito que Taylor Jenkins Reid tenha se inspirado na saga ao construir o triângulo amoroso de “Amor(es) Verdadeiro(s)’. Diversos livros infanto-juvenis também se inspiraram na referida saga na construção de envolvimentos amorosos entre os personagens, mas muitos tiveram o cuidado de não fazê-los soarem clichês.

    Nada é perfeito, especialmente na Literatura. Apesar de imperfeições, “Amor(es) Verdadeiro(s)” não deixa de ser uma história interessante. É mais uma narrativa em que acontecimentos principais, em si, possuem uma relevância secundária em comparação com as circunstâncias sob as quais eles ocorrem. A escrita da autora é extremamente coesa e flui sem dificuldades. Isso explica por que o livro requer um curto de intervalo de tempo para ser lido.

   Taylor Jenkins Reid deixa várias pontas soltas e ganchos para a criação de uma continuidade da história ou para a de uma narrativa passível de ser feito sob a visão de Jesse ou de Sam. Contudo, a premissa inicial sobre com quem Emma iria ficar após o retorno de Jesse e os fatores envolvidos nessa decisão foi cumprida.

   Em “Amor(es) Verdadeiro(s)”, Taylor Jenkins Reid erigiu uma narrativa que trouxe como uma de suas principais reflexões o fato de um amor verdadeiro não necessariamente ser único. A história reflete sobre temas bastante atuais e outros que merecem uma maior atenção dos diversos ramos do conhecimento que existem. Devido à ausência de cenas de cunho erótico, indico a obra a pessoas de todas as idades, especialmente ao público infanto-juvenil e ao jovem adulto.

                             

 

                                        Autor da resenha crítica: Felipe Germano Monteiro Leite

 

                                 

Ficha técnica:

Título: Amor(es) Verdadeiro(s)

Título original: One True Loves

Autor: Taylor Jenkins Reid

Número de Páginas: 296

Ano de Publicação: 2020

Nota: 7/10

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